sexta-feira, 27 de abril de 2012

Eu me sinto assim

Autor: Wiliam Fabricio

Eu me sinto assim

A música clássica de todos os surdos raros
O sol evidente de todos cegos
A voz possante que todos roucos possuem
Eu me sinto assim
A máscara que esconde o rosto mais visto
O livro mais vendido para analfabetos
A bíblia que todo agnóstico aceita
Eu me sinto assim
O ateu de todos os cultos matinais
O pensamento libertino de todo religioso
Eu me sinto assim
Como uma vela envolta de energia elétrica.
Eu me sinto assim.

F5 na vida e no blog.

Vivendo um paradoxo de sempre querer tempo para escrever, mas quando o tenho nunca aproveito. Hoje, recebi uma mensagem dizendo que se eu não atualizasse o blog o perderia. Seria melhor? Agora que já está atualizado, tenho um pouco mais tempo para pensar ou protelar essa vontade de parar, de continuar, de parar, de continuar...

domingo, 3 de abril de 2011

Nessa vibe...

A inspiração não acabou. Muito pelo contrário, pois tenho que escrever sobre diversas coisas. Sobre o que aconteceu, o que pode acontecer e, o que eu quero que aconteça. O que acabou foi outra coisa, eu acho. Acho que acabou a crença que, talvez, encontremos uma pessoa que tenha um mesmo prisma com relação ao amor, ao relacionamento e as coisas que façam com o que o mesmo perdure de modo relevante.
De todo modo, tirarei a poeira com mais frequência. A inspiração vem a todo momento, mas nem sempre podemos expressá-la. Seja por falta de tempo, acesso ou vontade. O sentido da vida é pra frente, portanto, nada de ficar esperando o tempo passar, pensar no que deixou de fazer ou o que já foi feito. TUDO passa, e sempre passará. Seja triste ou feliz.

Até breve.


Sugestão:

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Apenas viva.

Desperta. Um breve suspiro, e levanta-se. Acordara antes mesmo do despertador. O cabelo sobre os olhos dificultava a visão da insônia, pela janela. A noite ainda madrugava. O dia se escondia entre seus anseios. Olhava para o relógio e notava que ainda lhe restavam duas horas. As ideias, confusas, buscavam um modo melhor de se organizar e, tentar lhe dizer alguma coisa. Todavia, era em vão. Não lembrara o que sonhara, e se sonhara. A frustração aumentava na medida em que começava a acreditar que não sonhou. Se decepcionou. Pois, sabia que os sonhos não tinham acabado. Deixava de ser um sonhador?

Lentamente, caminhava em direção à sala. Sentava no sofá. Em meio a mais um suspiro, passava a mão sobre o cabelo desgrenhado, em busca de algum pensamento que o remetesse a si mesmo. Sentia-se perdido. Permaneceu por mais alguns instantes, e tornou-se a levantar. Dirigia-se à cozinha. Sentia sede. Foi até o armário, e pegou um pacote de café expresso. Enquanto o mesmo era preparado, decidiu ouvir uma música. Ligou o rádio. E, gradualmente, o som do violão era disseminado entre os cômodos da casa. Buscou algumas roupas, e foi tomar banho.

Ao entrar, o espelho refletia seus olhos vermelhos, inchados. Lembrou que chorara durante algumas horas atrás. E, mesmo sem saber o motivo, desviara o olhar de si mesmo. Despiu-se, e começou a banhar-se. A água que caía sobre sua face rapidamente misturou-se às novas lágrimas, proporcionando um sabor depressivo, e salgado. Apenas chorou como se soubesse que tudo iria passar, mas que era necessário fazê-lo naquele instante. Nesse momento, elucubrava, devaneava, chorava. Os pensamentos fluíam, e, ainda que confusos, sem significar nada, como mais um fracasso. Sentia-se incapaz. No fim dos soluços desesperados, com a respiração ofegante, o breve silêncio anunciava o final de uma música que iria lhe soar, ainda que distante, como se estivesse próximo a uma caixa amplificada os versos:

“E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar”

Parou por alguns instantes e respirou fundo. Sob a água, abatia-se como se os versos caíssem sobre seus ombros. Voltou a refletir sobre si mesmo, e nada mais. Decepcionou-se.

Porém, nesse instante percebera o que levara àquele momento. E, constatou que fora a própria decepção e a descrença em si mesmo. Sentiu-se roubado. Imaginou a personificação de suas mazelas lhe arrancando do peito a vontade de seguir em frente.

Após ter tomado café, de banho tomado, vestido, de barba feita, notava-se um semblante distinto. Já não importava o motivo do choro, e sim, o fato de estar triste. E, decidiu que mudaria isso. No rádio, a previsão do tempo anunciava, no intervalo das músicas, um dia lindo, sem nuvens e uma manhã agradável. Tomou café. Lembrou-se que era domingo, e não trabalhava. Colocou um cd, e escolheu uma faixa específica. E, num determinado ponto da música, gritou os versos como se naquele momento se libertasse das correntes soturnas que lhe prendiam ao canto mais escuro de seus pensamentos:

“Eu que já não sou assim
muito de ganhar
junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
só pra viver em paz.”

Seja como for, apenas viva.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sob A Ótica Divina

[Autor: Wiliam Fabricio]

A noite estava desagradável, por não estar agasalhado, e sem nenhum guarda-chuva. Estava frio e chuviscando. Na rua, poucas pessoas. Os passos eram audíveis, ainda que baixos, e seguiam apressados. Os pingos sobre as lentes dos óculos faziam com que o semáforo saísse de foco, distorcido, assim como os faróis dos carros, que sucediam-se, lentamente, devido ao trânsito na cidade maquiada.

A calçada molhada remetia-o à sua rasa memória, outrora, de uma inundação que acarretou à belíssima cidade um verdadeiro caos, regado ao odor, impaciência, pressa, fome, medo e um show à parte de sujeiras fisiológicas, plásticas, metálicas e outras mais, emergindo diante de seus olhos, na zona mais limpa da mesma. Lembrara quase que perfeitamente a hora em que chegara em casa, cansado, suado e ciente de que não teria uma boa noite de sono. Porém, os fragmentos memoráveis desse dia sumiram, quando voltava sua atenção ao semáforo à sua frente, visando atravessar a rua.

Caminhava em direção ao ponto de ônibus improvisado, ao lado da banca de jornal, e mantinha-se próximo a uma árvore, que agitava suas folhas com a ajuda do vento frio e úmido. Não demorara muito para que um mendigo, já conhecido por ele, seguisse em sua direção.

O jovem mendigo trajava ao menos um casaco, seguido de uma bermuda e sandálias bem simples, e usava involuntariamente um cabelo desgrenhado. A abordagem do rapaz o surpreendera, ainda que não tivesse uma boa dicção e força na voz. Talvez, esse último, devia-se ao fato de estar com fome. Todavia, ele mostrara o mínimo de educação, diferentemente das pessoas do dia-a-dia, que tiveram a oportunidade de tê-la.

O mendigo cujo nome não fora entendido apresentou-se com um aperto de mão, que fora respondido prontamente. Primeiro, agradecia por não ter sido mal tratado, e depois, fazia o seu apelo. Obviamente necessitava de dinheiro para alimentar-se, e nesse ponto, a maioria das pessoas negaria ou cederia algum biscoito ou qualquer outra coisa que pudesse alimentá-lo, naquele momento. Ou ainda, levaria a uma lanchonete próxima, e compraria-lhe um salgado qualquer.

Sob qualquer que fosse o ato, senão dar-lhe o dinheiro, estaria a intenção de eliminar qualquer possibilidade de endossar qualquer vício do rapaz, caso ele o tivesse. Porém, o rapaz no ponto de ônibus não poderia ter tais atitudes já que seu ônibus logo chegara.

Enquanto suplicava por algum dinheiro, o mendigo argumentava que o mesmo não seria para drogas, e que realmente estava com fome. Falara também que fora traficante, o que fora subtendido como um mínimo de conhecimento sobre seus nocivos efeitos. Talvez, se conhecesse mesmo estaria no caminho certo por não querê-las mais, e trocá-las por alimento, pensou.

Ao mesmo tempo em que conversava, o rapaz no ponto de ônibus lembrava-se das vezes em que vira o mendigo vendendo alguns doces, naquele mesmo lugar. O que mostrava-lhe no mínimo que o vendedor não estava satisfeito com a condição de vida que levava. Então, resolveu dar-lhe algumas das poucas moedas, em sua carteira, que seriam o suficiente para um salgado.

O brilho nos olhos do rapaz, e o largo sorriso, retiraram qualquer suspeita de que a pequena quantia seria usada para outros fins. Instantaneamente veio-lhe a mente a imagem de uma criança que fica feliz ao receber um presente no dia do seu aniversário ou ainda numa noite de Natal, acreditando que tenha sido o Papai Noel.

Gentilmente o mendigo beijava a mão do rapaz, como forma de agradecimento, além das inúmeras vezes em que repetia a palavra “Obrigado!”. Mas, ciente de que somos falhos, e que às vezes erramos, com o intuito de que o dinheiro devesse realmente ser gasto com comida, eu lhe disse:
- Deus está vendo!


Rio, 03/08/2009

sábado, 6 de dezembro de 2008

Uma pedra

[Autor: Wiliam Fabricio]

Acostuma-te ao teu tenebroso fim
Que a tua própria alma cultua
Em noite, fria, observa a Lua
Que está tão distante quanto a tua razão.

Vês! A verdade é nua e crua
Assim como a tua própria pele
Que com a proximidade me repele
Tua cútis está pútrida e já fede!

Levanta-te desse imundo chão e te veste
Segue teu rumo, fúnebre, com teu coração,
ainda que a cada canto desse quarto ele infeste

Carregue contigo a tua frialdade
Na cama que me deito, pois,
apenas há espaço para uma pedra.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Usufruindo a Nostalgia Temporária

[Autor: Wiliam Fabricio]

Minha cútis está pútrida!
Até quando permanecerei no escuro
Envolta do medo de ser esquecida
Dentro de um quadrado que mal posso ver o muro?

Daqui ninguém ouve minhas harmonias
A cadência do meu ritmo está cada vez mais tardia
Até quando permanecerei no escuro
Envolta do medo de ser esquecida
Dentro de um quadrado que mal posso ver o muro?

Não consigo escrever algo que não seja triste
Pois, quando me olham, apenas lembram dos momentos de alegria
Até quando viveremos de nostalgia?

Até quando permanecerei no escuro
Envolta do medo ser esquecida
Dentro de um quadrado que mal posso ver o muro?